Vandana Shiva, ativista e ambientalista indiana, nos fala sobre a importância das abelhas, por ocasião do dia mundial dedicado a elas
Ele está prestes a acabar atropelado, sua mãe o salva"A proteção das abelhas é um dever ecológico, levá-las à extinção é um crime ecológico. Uma ameaça às abelhas é uma ameaça à humanidade."
Vandana Shiva, presidente da Navdanya International e ativista e ambientalista indiana, fala sobre a importância das abelhas, por ocasião do dia mundial dedicado a elas. O colapso global no número de insetos é uma ameaça para quase todas as outras espécies do planeta, pois os insetos servem como fonte primária de alimento para milhares de espécies animais.
Nos últimos 50 anos, produtos agrotóxicos se espalharam por toda parte e estão levando as abelhas à extinção. As escolhas que a humanidade enfrenta são claras, trabalhar por um futuro sem veneno que salve as abelhas, os agricultores, nossos alimentos e a humanidade, ou continuar usando venenos na agricultura, colocando em risco nosso futuro comum, caminhando cegamente para a extinção graças à arrogância com que acredita-se que as abelhas podem ser substituídas por inteligência artificial e robôs.
“Abelhas robóticas podem polinizar plantas no caso de um apocalipse de insetos”, relata uma manchete recente do Guardian, que relata como os cientistas holandeses “acreditam que podem criar enxames de drones semelhantes a abelhas para polinizar plantas quando insetos reais são extintos”.
“Em 15 anos, prevemos uma crise em que não haverá insetos suficientes no mundo para polinização e a maioria de nossas vitaminas e frutas desaparecerão”, disse Eylam Ran, CEO da Edete Precision Technologies for Agriculture. Sua empresa afirma que “seu polinizador artificial pode aumentar o trabalho das abelhas e, finalmente, substituí-las. O sistema espelha o trabalho da abelha, começando com uma coleta mecânica do pólen das flores e terminando com uma distribuição direcionada usando sensores LIDAR, a mesma tecnologia usada em alguns carros autônomos”.
Mas não há substitutos para a biodiversidade do ecossistema e as dádivas das abelhas. Todas as culturas, todas as religiões viram as abelhas como professoras - capazes de dar, de criar abundância, de criar o futuro das plantas através da polinização e de contribuir para a nossa segurança alimentar e bem-estar. A geração de sementes de hoje é transformada na próxima somente graças ao presente oferecido pelo polinizador. A pesquisa de Navdanya mostrou que mais de 30% dos alimentos que comemos são produzidos por abelhas e polinizadores.
A economia da natureza é uma economia da dádiva. Em todas as tradições, a abelha tem sido exemplificada como a mestra do dom. Textos budistas apontam que de uma infinidade de seres vivos, abelhas e outros animais polinizadores tiram o que precisam para sobreviver sem prejudicar a beleza e a vitalidade de seu sustento. Para os humanos, agir à maneira das abelhas é uma manifestação de vida compassiva e consciente.
São João Crisóstomo escreveu: "A abelha é mais honrosa do que os outros animais, não porque trabalha, mas porque trabalha para os outros" (12ª Homilia). Na tradição islâmica, o capítulo 16 do Alcorão é chamado de "A Abelha". Este capítulo é conhecido por ser a revelação de Deus. Na tradição hindu, há uma citação maravilhosa nas escrituras do Srimad Mahabhaghavatam que diz: “Como uma abelha que coleta mel de todos os tipos de flores, os sábios buscam em todos os lugares a verdade e eles vêem apenas o bem em todas as religiões”.
Juntos como diferentes espécies e diferentes culturas e através de uma agricultura ecológica e alimentação sem venenos, regeneramos a biodiversidade de nossos polinizadores e restauramos sua sacralidade. Temos o poder criativo para deter a sexta extinção em massa e a catástrofe climática sem a necessidade de falsas soluções tecnocráticas.
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