Aristide Kouame é um artista da Costa do Marfim que usa chinelos coletados na praia como matéria-prima para seus trabalhos
Sem paleta e cores: é assim que o artista marfinense reaproveita os sapatos de plástico que acabam na praia, transformando-os em obras de arte.
Enquanto Aristide Kouame, 26, recolhe centenas de chinelos abandonados na praia de Abidjan, na Costa do Marfim, os banhistas muitas vezes o consideram um simples voluntário ou alguém fora do comum.
Eles não sabem que o menino carrega esses fragmentos de borracha com ele para cortá-los em pedaços e criar telas maravilhosas.
Quando vou recolher (resíduos) as pessoas fazem-me perguntas como: "O que vais fazer com isso?", Vais vender chinelos? ".
Eu respondo simplesmente dizendo que sou artista, pego o lixo da praia porque não gosto de ver sujo
diz Kouamé, mostrando um saco cheio de chinelos parcialmente erodido pela água.
Ver este post no Instagram
Um post compartilhado por Aristide Kouame (@aristide_kouame_peintre)
Sentado no chão de um beco estreito, Kouamé esculpe formas, letras e rostos com as solas dos pés. Ele cria sua pintura triturando o que resta dos objetos esquecidos, tão perigosos para o oceano e sua biodiversidade, mas ao mesmo tempo essenciais para as criações desse jovem artista.
A matéria-prima - infelizmente - não falta. De acordo com as Nações Unidas, aproximadamente 13 milhões de toneladas de resíduos plásticos são despejados nos oceanos do mundo todos os anos. Esses detritos podem ser encontrados espalhados por muitas das praias urbanas da África Ocidental, à medida que o lixo jogado nos canais da cidade é carregado para o mar, retornando à costa com a maré.
Ver este post no Instagram
Um post compartilhado por Aristide Kouame (@aristide_kouame_peintre)
São resíduos que as pessoas deixam no mar, o que os traz de volta para nós porque não os querem. O meio ambiente não quer as coisas negativas que o ser humano deixa para trás.
As obras de Kouamé vão desde retratos de líderes dos direitos civis até pinturas abstratas que evocam as grandes questões da sociedade contemporânea, como mudanças climáticas, COVID-19 e desigualdades.
O trabalho mais recente do artista representa uma mulher e uma criança usando máscaras, como que para evocar a cena clássica da Madonna e da criança.
Este trabalho é sobre o COVID-19 porque é isso que domina as notícias nos dias de hoje. Como artista me considero uma testemunha do meu tempo
Apesar de sua curta carreira, Kouamé já é considerado um dos artistas mais originais e provocadores da Costa do Marfim. Sua técnica é única e suas criações são exibidas tanto na África quanto na Europa.
Uma de suas obras mais importantes, exposta na Galeria de Arte Eureka em Abidjan, consiste em três grandes colagens, cada uma composta por 140 miniaturas de retratos.
Ver este post no Instagram
Um post compartilhado por Aristide Kouame (@aristide_kouame_peintre)
Ir para esses chinelos nas praias faz de Kouamé um protagonista da conservação da natureza. Gravar os retratos nesses chinelos é um trabalho difícil e delicado, e é quase como encontrar os donos, contando assim uma história. Todos esses chinelos associados juntos são o nosso mundo. Gostei desse processo, desse envolvimento, tanto ambiental quanto artístico
disse Sandrine Marmisole, diretora da Eureka Art Gallery.
Esses rostos, para mim, representam a sociedade. Esses rostos lado a lado representam a humanidade e a humanidade precisa de um ambiente em que seja agradável viver
acrescentou Kouamé.
Veja também:
- Três toneladas de resíduos plásticos processados em uma floresta colorida (para um propósito importante)
- O mural gigante inspirado em Van Gogh feito com 200 mil tampinhas plásticas em Caracas
- Esta banda fará você dançar música caribenha para… lixo
- Do mar para casa, esses voluntários transformam lixo marinho em objetos de design
- As majestosas esculturas feitas com sucata de automóveis e lixo eletrônico para conscientizar sobre a reciclagem de metais
- Animais com engrenagens recicladas: o artista turco que transformou 30 toneladas de sucata em obras de arte
